Pr. Ronaldo Lidório
Como crer em Deus e no cristianismo quando não vejo a manifestação sobrenatural e interventiva do Senhor em minha vida e em meus conflitos? Como acreditar em minha religião cristã quando a bênção não vem, a cura não chega e não encontro uma resposta inteligível à minha oração?
Refletindo a respeito do efeito da fé cristã em nossa vida, pude começar a entender que as diferenças entre a verdadeira e a falsa religiosidade tornam-se mais visíveis quando nos encontramos em crise. E quando estamos em crise, pensamos apenas em uma coisa: na possibilidade de Deus intervir.
Antes de mais nada, precisamos crer que a missão mais importante da igreja não é proclamar o evangelho, não é se expandir, e tampouco conquistar a mídia e impactar a sociedade. A primeira missão da igreja é morrer. É perder os valores da carne e ser revestida com os valores de Deus. É se "desglorificar" para glorificar a Deus.
Certa vez perguntaram a George Müller: - Qual o segredo do seu sucesso ministerial?
A resposta dele veio de imediato: - O segredo de George Müller é que George Müller morreu já há alguns anos.
Normalmente olhamos para a nossa crise pessoal de forma hedônica, na expectativa de ver o sobrenatural acontecer. Assim, o que esperamos é uma intervenção de Deus que satisfaça o desejo do nosso coração. Conseguimos ver apenas o que nos envolve - nossa vida, nossos bens, família, saúde, igreja e ministério - é aí que esperamos que Deus intervenha. Entretanto precisamos compreender que Deus é maior do que nós; que o projeto do Senhor é maior que o nosso projeto pessoal; que a glória de Deus é maior que a glória do homem.
Quase sempre pontuamos nossos sermões com episódios nos quais Deus interveio e o fez sobrenaturalmente. Ele fechou a boca dos leões, esfriou o fogo de uma fornalha, abriu caminho no mar, destruiu fortes muros de grandes cidades, derrubou gigantes, esmagou reis e reinos, deteve o Sol, enviou anjos para fortalecer um exército enfraquecido, deu vista a cegos, limpou a pele de leprosos, fez até mortos ressurgirem. Deus interveio. E quando o Senhor intervém, o nome dele é exaltado, elevado, louvado, é tremendamente glorificado. Deus é Deus. Com certeza era isto o que aquele guerreiro de Israel gritava enquanto via os muros de Jericó ruírem pela força do Senhor: "Deus é Deus!"
Contudo há momentos em que Deus não intervém milagrosamente. Mesmo estando presente, sendo o Senhor da história, o Dono da situação, o Pai amoroso, ele não intervém. A "galeria dos heróis da fé" de Hebreus nos fala de homens que foram cortados ao meio, uns lançados em cova de leões, outros torturados, maltratados e que não experimentaram libertação. Vemos ali mulheres que perderam repentina e tragicamente seus entes queridos; e filhos que perderam os pais de uma forma triste e penosa.
C. West afirma que nos voltamos para Deus à procura de ajuda quando os nossos alicerces estão estremecendo, e então descobrimos que é Deus quem os faz estremecer.
Creia. Deus está no controle dos incontroláveis momentos da sua vida. Ele está no controle do alicerce, da fundação da sua existência. Se o sofrimento vier, se a provação chegar, se a cura não acontecer, se o acidente lhe tirar aquilo que você tem de mais precioso na vida, saiba que no projeto do reino de Deus, além do horizonte, além da sua e da minha visão, além da nossa limitada realidade do momento, o nome do nosso Deus será glorificado. E glorificar o nome do Senhor é a prioridade que Deus estabeleceu. E essa deve ser a prioridade da igreja.
Nós não chamamos isso de fatalidade, destino, acaso, sorte ou de "coisas da vida". Nós chamamos isso de soberania de Deus.
É necessário que um dia digamos: "Eu não permitirei que minha vida seja um baú de desespero e melancolias. Não deixarei que minha mente seja um poço de amarguras e más recordações. Eu não dependo da crise, ou da ausência dela, para ser feliz. Não é a prosperidade ou o sofrimento que definem a minha felicidade. Quanto a mim, eu esperarei no Senhor."