quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Armadilha do Pedestal

Por Robert J. Tamasy

Quem são os seus heróis, aqueles por quem você tem grande admiração, pessoas cujo exemplo gostaria de imitar? Todos nós temos pessoas por quem nutrimos grande estima. Homens e mulheres que estabelecem um parâmetro elevado de comportamento e desempenho pessoal e profissional. Existe apenas um problema com esses heróis: são humanos como nós e erram. Quando isso acontece, nos sentimos desapontados e traídos, porque deixaram de viver à altura de nossas expectativas. 

Recentemente um destacado líder tomou decisões equivocadas e suas falhas vieram a público. Sua reputação de homem íntegro e de princípios éticos sofreu considerável dano. Como um de seus admiradores, eu estava entre os que ficaram surpresos e consternados com as revelações. Aquele homem não exibia nenhum sinal que poderia cair em desgraça. Mas cedo ou tarde, todos nós podemos cair, mesmo vivendo segundo valores que nos são caros. 

A Bíblia, que considero o maior e melhor manual já compilado para o mundo empresarial e profissional, é bastante claro: “Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus”(Romanos3.23).

O contexto refere-se a deixar de agir segundo padrões perfeitos e inabaláveis de Deus. Jamais encontrei uma pessoa perfeita. Você já? Portanto, todos nós nos encaixamos no “todos pecaram”.

Significa que deveríamos relevar, ignorar ou desculpar comportamentos errados? Não! Os que ocupam posições de liderança deveriam entender que serão julgadas de acordo com elevados padrões e expectativas, mais rigorosos que os aplicados a seus liderados, porque devem servir de exemplo. Porém, alimentar expectativas ou exigir perfeição deles não seria razoável nem realista. Tão logo colocamos nossos heróis num pedestal podemos começar a esperar sua queda. Eis alguns princípios da Bíblia para lidar com falhas – dos outros e nossas próprias:

Não se apresse em julgar. Quando o erro é descoberto somos rápidos a rotular a pessoa como fraudadora ou algo pior. Podemos até estar certos, mas precisamos admitir que dependendo das circunstâncias, poderíamos também ser igualmente culpados. “Não julguem para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês” (Mateus 7.1-2). 

Olhe para si mesmo. Já foi dito que temos tendência de ser mais críticos com aqueles que refletem nossas próprias deficiências e áreas de fraqueza. Antes de condenar outros, certifique-se de não esconder seus próprios pecados. “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está no seu próprio olho?... Tire primeiro a viga de seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mateus 7.3-5). 

Não minimize suas próprias vulnerabilidades. Anos atrás um líder afirmou que uma área na qual ele jamais tropeçaria era a de relacionamentos. Em poucos anos veio a público que esse homem casado estava envolvido em um caso extraconjugal com sua assistente administrativa. “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (I Coríntios 10.12).

Próxima semana tem mais!

terça-feira, 28 de junho de 2011

“PAI, COMEÇA O COMEÇO!”

(autor desconhecido)

Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - “pai, começa o começo!”. O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.

Meu pai faleceu há muito tempo (e há anos, muitos, aliás) não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, “começar o começo” de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas “tangerinas” são outras. Preciso “descascar” as dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.

Em certas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis......

Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo papai quando lhe pedia para “começar o começo” era o que me dava a certeza que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta. O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Pai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado. Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Pai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vitórias.

Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus:

“Pai, começa o começo!”. Ele não só “começará o começo”, mas resolverá toda a situação para você.

Não sei que tipo de dificuldade eu e você estamos enfrentando ou encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: “Pai, começa o começo!”.

Qual é a fobia da vez?

Marilise Escobar Bürger

Sempre assisti de camarote às “causas políticas” do nosso Brasil. Mas, desta vez, foi impossível não manifestar minha opinião. Tanto alarde, tanta ênfase sobre a homofobia, parece que este é o pior problema do jovem no Brasil. O que é isto? Quantos jovens sofrem preconceito racial? Social? Quanta violência existe por causas outras? Será que todos estão cegos? Surdos?

As bebidas alcoólicas são iniciadas aos 13 anos, nas baladas e festas, a cena degradante de jovens embriagados, caídos, carregados por outros; o futuro de um país afogado e entorpecido. Os jovens usam drogas como se fosse permitido, em nome de uma lei que descriminaliza o usuário. Mas o que é isso? Jovens alcoolizados estão morrendo nas estradas, e matando também. O material “didático” anti-homofobia custou mais de R$ 1 milhão aos cofres públicos! Quanto se investe em material didático sobre os danos do álcool? Quantos abordam as drogas? Não estou falando só do crack, cocaína ou óxi (todas derivadas do pé de coca, mas poucos sabem disso). Falo também da maconha, que desmotiva o jovem e pode induzir sintomas psicóticos. Estou falando da Ritalina, que escapa das mãos dos profissionais de saúde, invadindo cursos pré-vestibulares com o pretexto da tão requisitada concentração. Ora, até hoje nenhum estudo comprovou benefícios de aprendizagem com esse anfetamínico! Sim, a Ritalina é um anfetamínico como o ecstasy, e pode causar dependência, mas pouca gente sabe disso. Mas o que acontece afinal? Nossos eleitos estão preocupados com a homofobia?

Esta questão tem seu mérito, mas perde força frente à gravidade das drogas. Se saímos à noite, vemos jovens usando drogas nas calçadas, no pátio das escolas, parece que é permitido. Assistimos a isto de camarote, indignados pela falta de critério dos parlamentares; as drogas e o álcool batem à nossa porta como uma assombração, e a bola da vez é a homofobia. Por que os efeitos do álcool e drogas não estão nos livros didáticos? Por que os alunos estudam botânica, fisiologia humana, química, física... mas não estudam as ações das drogas no organismo? Se a situação está à beira do caos, é porque eles simplesmente não sabem o que fazem. Se o material didático abordasse os efeitos das drogas de forma simples e clara, quantos jovens evitariam tal situação? Se o material educativo anti-homofobia foi elaborado com o fim de “educar para prevenir”, por que isto não foi pensado para evitar o abismo das drogas? Nesta hora de indignação, penso em outras fobias da vez: ministrofobia, parlamentarofobia, ou outra fobia qualquer. Mas o problema das drogas está aí, e não é dos outros, é meu é seu, e também deles, que arbitram e criam as leis.

*Docente da UFSM, responsável pela disciplina de pós-graduação drogas de abuso

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Inútil Busca da Felicidade

Por Robert D. Foster

Durante o Congresso Nacional do Povo anual, o primeiro ministro da China determinou a seus oficiais que concentrassem esforços para “fazer o povo feliz”. Feliz se tornou a palavra da moda, lema para os burocratas daquela imensa e poderosa nação, desbancando outra favorita: harmonia.

Feliz, feliz, feliz. Aparentemente esta é a única palavra que conta no momento num país com mais de 1,3 bilhão de pessoas que supostamente têm “um olhar experimentado para a falsidade das campanhas

de propaganda”. Mas fico imaginando: E a alimentação? Ou habitação, água tratada e educação? 

Anos atrás li a seguinte afirmação numa revista britânica popular: “Felicidade é a única qualidade da vida que jamais pode ser encontrada através da busca. Se procuramos conhecimento podemos nos aplicar aos estudos; se procuramos poder é possível, por meio de variadas maneiras, possuir tão cobiçado domínio.  A maior parte das coisas na vida podem ser encontradas se as buscarmos com suficiente persistência e determinação”. Como ressaltou o autor do artigo da revista, entretanto, isso não acontece com felicidade. Ela não pode ser adquirida ou possuída através de busca incansável. 

Em minhas mais de nove décadas de experiência de vida, tendo a oportunidade de interagir com gente de muitas partes do mundo, tenho observado que aqueles que estão tentando ser felizes são, na maior parte, deprimidas e insatisfeitas. Felicidade, como a própria palavra sugere, depende em última análise de acontecimentos – coisas que acontecem – e que muitas vezes estão além do nosso controle (NT: O autor faz um jogo com as palavras inglesas Happiness [felicidade] e Happenings [acontecimentos], inviável em português).  

Não somente na China, mas em todas as partes do globo encontramos homens, mulheres e crianças numa perpétua busca pela felicidade, o que significa que seu estado mental está condicionado a responder ao que lhes acontece. Isso é verdadeiro em todos os segmentos da sociedade, inclusive no mundo profissional e empresarial, onde as circunstâncias podem mudar drasticamente num instante, substituindo felicidade por desespero. Diante desta realidade é importante perceber que existe uma alternativa maravilhosa, muito melhor: alegria.

A escritora Karen Mains oferece este discernimento: “Alegria não flutua com os altos e baixos da vida. Ela se eleva acima das circunstâncias. Alegria é um estado de íntimo contentamento e bem-estar, e suas exuberantes expressões exteriores”. A autora nos lembra que alegria não pode ser fabricada nem convocada; tampouco pode ser exigida. Esta descrição claramente faz distinção entre alegria duradoura e felicidade temporária: “Alegria é um cantar interior que não pode ser silenciado por circunstâncias negativas externas”. 

Por fim, como Karen Mains destaca, alegria é o subproduto de um relacionamento saudável e crescente com Deus. Ela escreve: “Devemos nos firmar na Triunidade. Devemos adorar cada vez mais ao Pai, identificarmos mais e mais a presença de Cristo no nosso viver diário e crescermos em obediência ao Espírito Santo”. Por isso a Bíblia declara: “Mas o Espírito de Deus produz ... alegria...” (Gálatas 5.22).

Num dia típico a felicidade pode ir e vir. Mas mesmo no ambiente de trabalho, a verdadeira alegria pode resistir à adversidade.

Próxima semana tem mais!


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Apedrejando os outros. Algumas observações sobre o PLC 122…

Incômodo ou não, os cristãos falam sobre pecado, um dos temas abordados por Jesus. Quando lhe apresentaram uma pecadora que, por conta de suas ações, contrárias à lei mosaica, deveria ser apedrejada, o Messias também falou sobre violência. Grande revolucionário, Cristo impediu o apedrejamento sugerindo que aquele que não tivesse pecado lançasse a primeira pedra. Contudo, em desfecho esquecido pelos mais liberais, após proteger aquela mulher, e com amor, disse: “Vai, e não peques mais”. Eis Jesus: sem pedras, sem acomodações; com amor, mas sem pecado.

Socialmente, existe violência contra os homossexuais, é fato. E um bom cristão não assiste a um apedrejamento, seja de um pecador ou não, sem fazer o que pode para impedi-lo. Por força de suas crenças, os cristãos devem se mobilizar contra a homofobia e a violência. Afinal, evitar pedras é dever cristão.

Anote-se que existem três tipos de apedrejamento: o físico, o verbal e o moral. Explico. Homicídios e lesões corporais são exemplos do primeiro; a fala agressiva, do segundo; e a imposição de ideias à força, do terceiro. No caso da fala e do discurso, temos de ter cuidado, pois o direito de expressar opinião é uma conquista da democracia e compõe o quadro dos direitos humanos. Assim, lamenta-se a fala inflamada, mas ainda assim ela há de ser admitida, posto que sua limitação é censura, tirania, mordaça. Preferia não ver pedras verbais na boca de um cristão, mas às vezes é difícil distinguir onde começa e termina a opinião e onde começa o, sempre lamentável, uso de pedras, mesmo verbais.

É preciso haver liberdade para expressar a opinião. Isso inclui o direito de um religioso dizer que a homossexualidade é pecado, e o direito de um homossexual dizer que o religioso é antiquado. Cada um com sua fé, e todos respeitando, democraticamente, o diferente. Esta é a ideia.

A índole cristã é pacífica, tanto que a violência contra homossexuais não vem partindo de grupos religiosos. É bom dizer isso para não confundir as eventuais pedras verbais de alguns religiosos com as agressões físicas dos skinheads e neonazistas, por exemplo. Claro que ainda prefiro os religiosos com discurso mais amoroso, mas não confundamos os tipos de pedras, e não sou eu quem vai dizer o que o outro pode ou não falar.

Ao lado disso, não nos esqueçamos que pedras, de todos os tipos, estão sendo arremessadas de ambos os lados. O PLC 122, na forma como foi aprovado pela Câmara dos Deputados, tem um conteúdo de apedrejamento moral, ao querer impedir que os religiosos digam que segundo seu ponto de vista a homossexualidade é pecado. Isso pode incomodar a alguns, mas é um direito constitucional. Em suma, no justo interesse de combater a homofobia, parte do movimento gay também tem suas pedras verbais e morais. E lamento por alguns artigos de lei de interesse de todos não serem editados com a urgência necessária a fim de combater a violência não só contra os homossexuais, mas também contra negros, índios e pessoas pobres. Isso tem que ser combatido, e logo.

Como cristão e cidadão, quero combater a homofobia, como também quero que seja respeitado o direito de expressão de quem, por motivo religioso ou filosófico, tem opinião contrária à homossexualidade. Querer que um religioso, cristão, judeu, muçulmano, seja processado por suas crenças, é impedir a manifestação do pensamento e da religião. É querer usar a lei como pedra para acertar os religiosos. Erra quem usa a lei para impedir os direitos dos homossexuais e erra quem quer calar os religiosos usando a lei como veículo da mordaça.

O que mais me incomoda é que esse cabo de força da expressão da opinião impeça a edição de lei que criminaliza as pedras físicas. O resultado é que, sendo interesse de ambos os lados, projetos necessários, contrários à violência, estão demorando mais do que o necessário. Nesse passo, vale dizer: a maioria esmagadora dos cristãos é contra a violência, contra a homofobia, e se alguns segmentos se opõem ao PLC 122 é porque ele erra na mão e inverte a discriminação ao invés de eliminá-la.

Nesse cenário lamentável, o Senador Marcelo Crivella sugeriu à bancada evangélica um novo Projeto de Lei em substituição ao PLC 122. Este substitutivo tem o mérito de atacar a violência sem desrespeitar a Constituição, bem como de mostrar que os cristãos são contra qualquer violência, inclusive a violência contra a manifestação do pensamento. Em suma, finalmente há um projeto moderado, com inteligência e sabedoria para atacar o problema social da violência resolvendo os grandes defeitos do PLC em sua forma original. A proposta feita por Crivella, com o apoio de expressiva parcela dos evangélicos, contrários a qualquer tipo de violência, pode até ser apedrejado pelos radicais dos dois lados, mas, certamente, é o primeiro projeto que segue o caminho do meio, compondo os interesses dos dois lados sem ferir a Constituição.

Um bom cristão é contra a violência. Alerta sobre o pecado, mas não compactua com apedrejamentos físicos ou morais, e evita os verbais. Considerando que o movimento gay também prega o amor, espera-se que respeite o direito à discordância. Assim, os dois grupos podem se unir para editar uma lei capaz de combater as piores pedras, e que ajam de forma mais serena e respeitosa entre si, como só uma boa democracia, cristianismo ou arco-íris, pode permitir.

* William Douglas é juiz federal/RJ, professor e escritor. É Mestre em Direito e Especialista em Políticas Públicas e Governo