quarta-feira, 12 de agosto de 2015

POR QUE CÃES FICAM FELIZES QUANDO NÓS VOLTAMOS PARA CASA?

Para entender o comportamento dos cachorros, precisamos entender que eles são descendentes de lobos (ou, pelo menos, possuem um ancestral comum).

As duas espécies foram separadas há cerca de 10.000 a 15.000 anos, então quaisquer inferências sobre suas semelhanças são pura especulação. Ainda assim, pesquisadores creem que os cães são categoricamente diferentes em virtude do fato de que seus antepassados buscaram ativamente a companhia de seres humanos.

O neurocientista Gregory Berns afirma que há uma diferença fundamental entre lobos modernos e aqueles que viveram há muito tempo. De acordo com ele, os ancestrais que passaram a conviver em torno de seres humanos tinham que ter sido os mais sociais dos lobos. Estes eventualmente evoluíram e se tornaram cães fofinhos, como a gente conhece hoje.

O restante da população loba estava entre os mais antissociais desses animais, e não queria ter nada a ver com os seres humanos.

Dito isto, no entanto, Berns confirma que podemos ver claramente comportamentos em lobos que são semelhantes aos expressos pelos cães.

Por exemplo: lobos cumprimentam uns aos outros por lamber os rostos. Para estes animais, o comportamento não só é importante socialmente, como é também uma forma de verificar e determinar o que os outros lobos trouxeram para casa em termos de alimentos.

Cães selvagens se comportam de maneira semelhante.

Sociabilidade

A grande mudança em termos de sociabilidade adaptativa tem sido a capacidade de cães domesticados de interagir com os seres humanos usando nossos próprios sinais de comunicação, tais como olhares e gestos.

A especialista em cachorros Jessica Hekman tem estudado comportamentos de cumprimento de lobos. De acordo com ela, alguns dos comportamentos específicos dos lobos se assemelham com comportamentos de cães, mas são muito mais ritualizados. Ela testemunhou um estudo comportamental em que lobos que se conheciam bem tinham sido separados por alguns dias e colocados juntos de volta. Os rituais de saudação foram fascinantes, com lobos de abaixando e lambendo o queixo dos subordinados.

Nós podemos ver estes comportamentos em cães, mas, mais esporadicamente, sem tanta intensidade.

Ao mesmo tempo, os cães exibem comportamentos que são marcadamente diferentes dos lobos.

Como Hekman explicou, uma das diferenças mais dramáticas entre cães e lobos é a capacidade dos cães de aceitar novidade. Simplificando, os cães são menos medrosos do que os lobos.

Como é que é?

Isso pode soar um pouco estranho, especialmente porque um lobo parece muito mais fatal. Mas é aí que reside a diferença: lobos podem optar por medidas proativas para se protegerem, usando os dentes. Já os cães são muito menos propensos a fazer isso.

Na verdade, dada a sua ascendência, é notável que os cães se deem tão bem com os seres humanos. Como Berns aponta, a sociabilidade acabou por ser uma adaptação bastante poderosa, que tem funcionado muito melhor para os cães do que para os lobos.

É só olhar para ver

Existem muitos mais cachorros no mundo do que lobos. Ou seja, os cães provaram ter uma estratégia evolutiva altamente eficaz. Há na ordem de dezenas de milhões de cães em todo o mundo, por isso, em muitos aspectos, eles têm evoluído “melhor” do que os lobos.

Como os cães veem os humanos

Um aspecto fundamental da pesquisa de Berns é estudar como os cães nos veem. Nós, seres humanos, sabemos que os cães são uma espécie separada, mas os cães também estão cientes desta diferença? Ou será que eles nos veem como seus semelhantes, ou como algum tipo de cão estranho?

Segundo Berns, os cães que são apresentados com determinados cheiros em scanners podem claramente dizer a diferença entre outros cães e seres humanos, e também discernem e reconhecem odores familiares e estranhos. Em particular, o cheiro de um ser humano familiar evoca uma resposta de recompensa no cérebro dos cães.

Nenhum outro cheiro faz isso, nem mesmo o de um outro cachorro que eles conheçam.

Isso significa que eles sabem que nós somos diferentes, e há um lugar especial no cérebro deles só para nós.

Amor racional?

Berns salienta que os cachorros são afeiçoados a seus donos não apenas por motivos de alimentação. Eles amam a companhia de seres humanos para seu próprio bem.

Tão feliz em ver você

Praticamente todos os especialistas concordam que os cães sentem uma felicidade que é comparável a que os seres humanos sentem.

Cães obviamente não têm as mesmas capacidades linguísticas, e que não são capazes de representar as coisas que pensam como nós. Como os cães não entendem nomes de pessoas, os pesquisadores suspeitam que eles têm uma resposta emocional ainda mais pura. E suas mentes são preenchidas com todos os tipos de conceitos abstratos.

Também é importante considerar o grau de apego. As saudações particulares de um cão são dependentes de vários fatores, tais como seu temperamento, a personalidade do proprietário, a natureza de seu relacionamento, o nível de estresse e ansiedade, e a tendência/capacidade do cão para o autocontrole.

Mas por que TÃO FELIZES?

O nível exagerado de saudação que pode ser observado em alguns cães é provavelmente devido ao fato de que eles ainda não aprenderam a aceitar a possibilidade da separação não voluntária de seus donos. Os cães provavelmente tiveram um dia muito chato longe de seus proprietários, o que pode ser especialmente desagradável para um animal social.

Então, além de ficarem felizes em nos ver, eles provavelmente estão sentindo algum alívio de que alguma coisa interessante vai acontecer, como ir para uma caminhada, ou ter alguém por perto.

Como cumprimentar seu cão de volta

É óbvio que é importante responder ao seu cão quando você chega em casa, mas, de acordo com Marcello Siniscalchi, um médico veterinário da Universidade de Bari, como você deve reagir dependerá do contexto da situação e as necessidades do próprio cão.

Segundo ele, alguns cães precisam ser recebidos. Já com outros, é melhor evitar qualquer escalada no nível de excitação. Outros ainda precisam aprender estratégias para lidar com o estresse associado ao desapego.

Autor: Gabriela Mateos

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