domingo, 27 de novembro de 2011

FUJAMOS DO “MÚCIO!”

Carlos Bayma

Demagogo, ao pé da letra, significa aquele que lisonjeia ou excita paixões populares; partidário da demagogia. Aqui, o sentido será outro. É aquele que, em nome da proeza de ser aceito por todos, faz malabarismos para não desagradar ninguém, pois assim, pensa ele, "não terei que lidar com desafetos e críticas e, aos olhos alheios, serei considerado alguém legal".
Pois, danem-se os demagogos! Detesto ter que lidar com gente que só quer agradar o tempo todo. Esse tipo de gente não é de confiança. Seus posicionamentos e opiniões pouco valem e, costumeiramente, adotam como suas as idéias e os pereceres alheios. No afã de ser considerado alguém "bom, legal, gente boa, leal, fiel" ou coisa que o valha, faz uma ginástica contorcionista para se manter "em cima do muro", que varia desde simples mentirinhas até declarações ou depoimentos que possam comprometer gravemente a vida de outrem (sempre na surdina, subrepticiamente).
No aspecto mais inocente dessa história, é aquela pessoa que elogia as fotos de seus filhos (mas mal as vê), brinca com eles de um modo aparentemente descontraído e alegre (mas só quer agradá-la), elogia seu novo corte de cabelo (mesmo que seja algo ridículo), diz que você é melhor profissional que já conheceu (diz isso mesmo aos outros também) e concorda com tudo quando sua opinião é solicitada.
Há muitos anos, Jô Soares, no programa Viva o Gordo, protagonizava um personagem desse tipo de uma forma absolutamente hilariante. Chamava-se "Múcio". Quem tem mais de 30 anos talvez se lembre. O Múcio, cujo bordão era "Tirou daqui, ó!" - apontando para sua própria boca - não entrava em atrito com ninguém. Quando dizia algo, desdizia se assim fosse conveniente. Diante de uma situação cuja opção entre duas alternativas opostas exigia uma decisão, ele conseguia "serpentear" entre elas e, no final, não emitir seu real posicionamento sobre o assunto em questão, não tomar partido e não desagradar ninguém.
No início da década de 1990, concluindo residência médica em Urologia, ouvi do chefe da clínica: "Um homem que é bonzinho demais, que não fez alguns inimigos, não pode ser realmente bom e nem amigo. Esqueça-o. Fuja dele!" Até hoje concordo com isso. Não gosto de "Múcios". Eles são aparentemente de fácil convivência e inofensivos, parecem apoiá-lo, mas, no aperto, a escora que eles colocaram ao tomar seu partido se quebra com muita facilidade, pois é podre em seu cerne.
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Um pouco de "Múcio", por Jô Soares, no programa Viva o Gordo (década de 1980):
Múcio fala:
- Patrão, só há duas pessoas no mundo que eu admiro mesmo!
E o patrão:
- É... E quem são?
- Uma é o senhor...
- E a outra?
- A outra? ... É quem o senhor indicar!!!
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