terça-feira, 4 de setembro de 2012

Fumar Baseado não faz mal. Baseado em que?

Lamenta-se muito que nossa sociedade conviva em meio a tantos mitos, “pré- conceitos”, não tendo por base a realidade das evidências científicas, desconhecida da esmagadora maioria das pessoas. Nossos jovens teriam tudo para serem bem informados , desde que informações reais e não baseadas em mitos!

Com relação às drogas, se deixamos, felizmente, a fase alarmista, da pedagogia do terror, entramos, o que é pior ainda, na fase do descaso, da negligência, da banalização ou mesmo até, da “glamorização”, em especial, em relação à maconha. O ideal seria, sairmos dos extremos, dos dois pólos (terror/banalização) e conseguirmos um contra-ponto. Em pleno século XXI, era “soft”, na internet temos cerca de 70% dos “sites”, fazendo apologia à maconha, falando bem da droga e apenas os outros 30%, tratando a substância com a devida seriedade, dentro da realidade das comprovações científicas.

O Brasil recebeu no ano passado, o mestre David Fergusson, norte americano, radicado na Nova Zelândia, autor do estudo mais amplo sobre a maconha, já realizado em todo o mundo, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde. Ele teve a paciência de acompanhar,cientificamente, 1265 bebês, durante 25 anos, chegando a conclusões das mais interessantes e muito úteis para pais, educadores (e gestores responsáveis pela implantação de políticas públicas). O trabalho de David Fergusson, relacionou o uso da maconha ao desempenho escolar, a dependência/descontrole compulsivo, a porta de entrada para outras drogas, depressão e até esquizofrenia.

Segundo o pesquisador, “a maconha emburrece” (“Cannabis makes you dumb”) , pois constatou que o “déficit” no rendimento até a evasão escolar, aumenta em até seis vezes entre os usuários dessa droga. Também evidenciou-se que 66% dos usuários partiram para o uso de outras substâncias psicoativas e 53% (com uso de um ou dois baseados por semana) preenchem os critérios para a dependência química, Percentual significativo, também, entre os que apresentam predisposição a problemas psiquiátricos, aqueles com uso continuo da maconha foram observados 1,6 a 1,8 vezes mais sintomas psicóticos, em relação aos que jamais usuram.

Ainda, segundo o pesquisador, “a droga da preguiça”(“the lasyness drug”), responsável pela síndrome amotivacional, de inocente nada tem! Ela é comprovadamente responsável por alterações na consciência, na percepção sensorial, distorcendo a realidade, mas, mesmo assim, tem feito à “cabeça” dos mais jovens, pela diminuição da ansiedade e angústia, entretanto, por não haver o conhecimento médico, custo-benefício, da substância. A partir de estudos mais recentes, assim como o do mestre Fergusson,entre tantos outros apreciados em atuais simpósios e congressos, fica evidente a necessidade, das mais urgentes, de se rever sobre o uso da maconha – tão banalizada em nossos dias!-, como fator de agravo à saúde, como prejuízos ao desempenho escolar, profissional e mesmo em termos da formação (ou deformação!) de nossos jovens.

O baseado comercializado pelo tráfico,hoje é dez vezes! mais concentrado em THC (princípio ativo da maconha), do que aquele consumido na década de 60, ou seja, um baseado fumado hoje, equivale a 10 baseados consumidos décadas atrás, potencializando assim os sintomas.

Portanto, afirmar que baseado não faz mal ou que não causa dependência é hoje estar na contra mão da realidade, colocando nossa juventude vulnerável a vários riscos, principalmente ao risco maior do desperdício de seus potenciais. Nós, pais, que tanto amamos nossos filhos, não podemos nos permitir à distração, à desinformação ou ao engodo dos mitos,assim como os jovens inteligentes devem ter a opção de escolhas conscientes. Precisamos pois, estar bem alertas!

(Eustázio Alves Pereira Filho, além de ser amigo do Bp. Laerte Lafayett, é psicólogo clinico/psicoterapêuta, advogado e presidente do Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Tabaco, Álcool e outras Drogas de Santos – Comad)

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