Felizmente existe uma grande divulgação das
síndromes e transtornos que podem assolar nossa psicologia em nosso mundo cada
vez mais pós-moderno.
No entanto, uma das mais perigosas síndromes passa
despercebida dos grandes fóruns de psiquiatria. Eu a denomino “Síndrome do
Prefácio” e seus sintomas são bem conhecidos.
A vítima desse mal acredita que sua felicidade só
será alcançada daqui a algum tempo:Quando crescer, quando fizer 18 anos ou 21.
Quando passar no vestibular, quando se formar, quando arrumar um emprego,
quando sair de casa, quando casar, quando se divorciar, quando mudar de
emprego, quando for promovido, quando comprar a casa nova ou o carro novo,
quando se mudar, quando se aposentar…
Quando, quando e quando. Nunca o aqui ou o agora!
O futuro x o
presente
Penso muito nesta síndrome que a muitos acomete de
forma inconsciente quase sub-reptícia tendo em vista a cumplicidade coletiva
dos grupos sociais e das grandes instituições.
A síndrome do prefácio preconiza que sua vida ainda
está para começar. Tudo o que você viveu e vive até agora é apenas o
prefácio da grande saga que ainda irá escrever.Assim posterga suas mais
importantes decisões, menospreza seus melhores feitos, ignora seus melhores
amigos e subestima suas relações afetivas mais significativas.
Afinal esse namoro é apenas um passatempo! Esse
emprego é temporário, essa amizade é passageira, esse romance é efêmero. O
melhor ainda está ainda por vir!
Essa síndrome paralisa a capacidade de aproveitar o
momento e degustar os aspectos mais proeminentes do aqui e do agora. Faz
com que cada um viva o amargor diário da frustração de intuir que do outro lado
a grama é sempre mais verde! E quanto mais distante estiver de si esse
“outro lado” — seja no tempo ou no espaço — o verdor desse simbólico gramado
será muito mais perfeito e pleno.
Querer ou não
querer?
É em parte devido à essa síndrome do prefácio que
as pessoas dirigem seus carros, completamente desesperados pelas avenidas ou
rodovias do fim de semana com pressa de chegar a esse “outro lado”.
Seja para disputar uma mesa no happy hour do bar da moda seja para usar a
espreguiçadeira compartilhada na casa de praia comprada em consórcio.
O melhor está além. Sempre além. Seja o além
das minhas posses. Seja o além de minhas possibilidades. Questões que podem ser
resolvidas numa equação simples de investimento x oportunidade
Se estou na plateia quereria o primeiro balcão. Se
estou em Canavieiras almejaria Joaquina.
Não. Não é o velho dilema do copo meio cheio ou
meio vazio. Ou da ave na mão comparada àquelas duas voando no céu
inalcançável. É o dilema entre o real e o imaginado. O que no
fundo é uma grande bobagem porque o imaginado sempre supera o real— pelo menos
nessa perspectiva tão rasteira. Não é trocar o copo meio cheio pelo meio
vazio. É trocar um copo cheio real por outro copo também cheio — porém —
imaginado.
Especiaria perigosa
Não tenho nada contra a essa mola propulsora que
nos faz querer sempre mais.
O que me perturba na ambição em seu papel da
pimenta que estraga o prato da vida, tornando-a intragável — Não é a ambição em
si — mas seu excesso que amortece o sabor das pitadas necessárias para deixar a
vida mais viva.
Mas é essa fome que nunca cessa; é esse vazio que
nunca se preenche.E, no entanto, a vida é no fundo a própria jornada e não o
almejado ponto de chegada.
Que tal reduzir a velocidade na sua a ida à praia e
aproveitar o passeio? Porque o melhor instante é o agora e o melhor lugar
é o aqui. Só dessa forma conseguiremos construir uma sucessão temporal de
“aquis e agoras” num crescendo em qualidade e intensidade que transforme a
aventura de viver numa experiência memorável.
E como fazer isso?
Bem, isso já é tema para um próximo artigo. Não
perca!
Artigo de Mustafá Ali Kanso
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