terça-feira, 9 de junho de 2015

A Síndrome do Prefácio

Felizmente existe uma grande divulgação das síndromes e transtornos que podem assolar nossa psicologia em nosso mundo cada vez mais pós-moderno.
No entanto, uma das mais perigosas síndromes passa despercebida dos grandes fóruns de psiquiatria. Eu a denomino “Síndrome do Prefácio” e seus sintomas são bem conhecidos.
A vítima desse mal acredita que sua felicidade só será alcançada daqui a algum tempo:Quando crescer, quando fizer 18 anos ou 21. Quando passar no vestibular, quando se formar, quando arrumar um emprego, quando sair de casa, quando casar, quando se divorciar, quando mudar de emprego, quando for promovido, quando comprar a casa nova ou o carro novo, quando se mudar, quando se aposentar…
Quando, quando e quando. Nunca o aqui ou o agora!

O futuro x o presente
Penso muito nesta síndrome que a muitos acomete de forma inconsciente quase sub-reptícia tendo em vista a cumplicidade coletiva dos grupos sociais e das grandes instituições.
A síndrome do prefácio preconiza que sua vida ainda está para começar. Tudo o que você viveu e vive até agora é apenas o prefácio da grande saga que ainda irá escrever.Assim posterga suas mais importantes decisões, menospreza seus melhores feitos, ignora seus melhores amigos e subestima suas relações afetivas mais significativas.
Afinal esse namoro é apenas um passatempo! Esse emprego é temporário, essa amizade é passageira, esse romance é efêmero. O melhor ainda está ainda por vir!
Essa síndrome paralisa a capacidade de aproveitar o momento e degustar os aspectos mais proeminentes do aqui e do agora. Faz com que cada um viva o amargor diário da frustração de intuir que do outro lado a grama é sempre mais verde! E quanto mais distante estiver de si esse “outro lado” — seja no tempo ou no espaço — o verdor desse simbólico gramado será muito mais perfeito e pleno.

Querer ou não querer?
É em parte devido à essa síndrome do prefácio que as pessoas dirigem seus carros, completamente desesperados pelas avenidas ou rodovias do fim de semana com pressa de chegar a esse “outro lado”.
Seja para disputar uma mesa no happy hour do bar da moda seja para usar a espreguiçadeira compartilhada na casa de praia comprada em consórcio.
O melhor está além. Sempre além. Seja o além das minhas posses. Seja o além de minhas possibilidades. Questões que podem ser resolvidas numa equação simples de investimento x oportunidade
Se estou na plateia quereria o primeiro balcão. Se estou em Canavieiras almejaria Joaquina.
Não. Não é o velho dilema do copo meio cheio ou meio vazio.  Ou da ave na mão comparada àquelas duas voando no céu inalcançável. É o dilema entre o real e o imaginado.  O que no fundo é uma grande bobagem porque o imaginado sempre supera o real— pelo menos nessa perspectiva tão rasteira. Não é trocar o copo meio cheio pelo meio vazio. É trocar um copo cheio real por outro copo também cheio — porém — imaginado.

Especiaria perigosa
Não tenho nada contra a essa mola propulsora que nos faz querer sempre mais.
O que me perturba na ambição em seu papel da pimenta que estraga o prato da vida, tornando-a intragável — Não é a ambição em si — mas seu excesso que amortece o sabor das pitadas necessárias para deixar a vida mais viva.
Mas é essa fome que nunca cessa; é esse vazio que nunca se preenche.E, no entanto, a vida é no fundo a própria jornada e não o almejado ponto de chegada.
Que tal reduzir a velocidade na sua a ida à praia e aproveitar o passeio? Porque o melhor instante é o agora e o melhor lugar é o aqui. Só dessa forma conseguiremos construir uma sucessão temporal de “aquis e agoras” num crescendo em qualidade e intensidade que transforme a aventura de viver numa experiência memorável.
E como fazer isso?

Bem, isso já é tema para um próximo artigo. Não perca!


Nenhum comentário: