sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sobre Estar Sozinho

Dr.  Flávio Gikovate

Não foi apenas o avanço tecnológico que marcou o início  deste milênio. As relações afetivas também estão  passando por profundas  transformações e revolucionando  o conceito de amor.
O  que se busca hoje  é uma relação compatível com os tempos modernos,  na qual exista individualidade,respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma  relação de dependência,  em que um responsabiliza  o outro pelo seu  bem-estar.
A  idéia de uma pessoa  ser o remédio para  nossa felicidade, que  nasceu com o romantismo  está fadada a desaparecer  neste início de século. 
O amor romântico parte  da premissa de que  somos uma fração e  precisamos encontrar nossa  outra metade para nos  sentirmos completos.

Muitas  vezes ocorre até um  processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher;  ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino.

A  teoria da ligação  entre opostos também vem dessa raiz: o  outro tem de fazer  o que eu não sei.  Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática  de sobrevivência, e  pouco romântica, por  sinal.

A  palavra de ordem deste  século é parceria.
Estamos  trocando o amor de
necessidade, pelo amor  de desejo. Eu gosto  e desejo a companhia,  mas não preciso, o  que é muito diferente.

Com  o avanço tecnológico, que exige mais tempo  individual, as pessoas  estão perdendo o pavor  de ficar sozinhas, e  aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando  a perceber que se  sentem fração, mas são inteiras.

O  outro, com o qual  se estabelece um elo,  também se sente uma  fração. Não é príncipe ou salvador de coisa  nenhuma. É apenas um  companheiro de viagem.

O  homem é um animal  que vai mudando o  mundo, e depois tem  de ir se reciclando,  para se adaptar ao  mundo que fabricou.  Estamos entrando na  era da individualidade,  o que não tem  nada a ver com  egoísmo.

O  egoísta não tem energia própria; ele se alimenta  da energia que vem  do outro, seja ela  financeira ou moral.

A  nova forma de amor,  ou mais amor, tem  nova feição e significado.  Visa à aproximação  de dois inteiros, e  não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.  Quanto mais o indivíduo  for competente para  viver sozinho, mais  preparado estará para  uma boa relação afetiva.

A  solidão é boa, ficar  sozinho não é vergonhoso.  Ao contrário, dá dignidade  à pessoa.

As  boas relações afetivas  são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas  vezes, pensamos que  o outro é nossa  alma gêmea e, na  verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso  gosto.

Todas  as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez  em quando, para estabelecer  um diálogo interno  e descobrir sua força  pessoal.

Na  solidão, o indivíduo  entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas
dentro dele mesmo, e não a partir do outro.

Ao  perceber isso, ele se  torna menos crítico  e mais compreensivo  quanto às diferenças,  respeitando a maneira  de ser de cada  um.

O  amor de duas pessoas  inteiras é bem mais  saudável.

Nesse  tipo de ligação, há  o aconchego, o prazer  da companhia e o  respeito pelo ser amado.

Nem  sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você  tem de aprender a perdoar a si mesmo...

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