segunda-feira, 14 de setembro de 2020

ORAÇÃO & DEVOCIONAL || 13 09 20 || Jesus, o Belo Pastor

Replicou-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus! - Marcos 10.18

Jesus não aceitou o título de bom, segundo a narrativa dos três primeiros evangelhos. Disse Jesus a seu interpelante que só Deus é bom. No Evangelho de João, onde tradicionalmente se traduz a fala de Jesus sobre ser ele o bom Pastor, uma tradução ignorada, mas que, certamente, é mais que correta, é que ele é o belo Pastor. Em nossa compreensão moral, contudo, não temos dúvidas ou qualquer receio de dizer que ele era bom. Sua bondade estava intimamente ligada à sua fé e, por isso, à sua relação com o Pai, aquele que realmente é bom.

Aos cristãos e cristãs, a quem a interpelação de ter o mesmo sentir e pensar de Jesus (cf. Fl 2,5) é permanente, a bondade é uma qualidade indispensável. Mas, aos modos de Jesus, o fato de cristãos e cristãs serem chamados à bondade não se dá pelos seus próprios méritos, mas por participação na bondade divina.

Contudo, note-se bem, essa bondade por participação na bondade divina não diz respeito apenas aos membros do cristianismo. Aos cristãos e cristãs, esse é um imperativo ético, por causa da irrenunciável dimensão da configuração de vida que os batizados e batizados têm com a vida mesma de Jesus.

Assim, a bondade cristã não é um mérito que garante pontos na eternidade. Ela é fruto de um caminho espiritual, no qual homens e mulheres se deixam transformar pelo Espírito do Cristo Ressuscitado, que os faz filhos e filhas do Pai, porque partícipes da vida filial de Jesus. A teo-lógica, aqui, é a mesma da santidade: “Sede santos como o Pai é santo” (cf. Mt 5,48), tal como nos inspira Jesus. Porque Deus, que nos assume como Pai, é bom e santo, também nós podemos ser tocados por sua bondade e santidade, de modo que irradiemos sua bondade e santidade no mundo.

Nesse sentido, cada gesto de bondade feito por cristãos e cristãs deve ser feito na gratuidade. É por sua bondade ser gratuita e participativa na vida do Pai, que Jesus não reconhece a si mesmo como bom. Uma bondade gratuita é fruto de um processo espiritual, no qual a pessoa se deixa inspirar por um anseio de humanização. Espiritualidade, vale dizer, é a atividade do espírito – interior –, que nos move à transformação de nós mesmos, com vistas a uma melhor realização de nossa humanidade, de nossa verdadeira humanidade.

Assim, a bondade gratuita, a mesma à qual Jesus viveu, não encontra recompensas e nem está atrás delas. Aqui está a chave para uma melhor compreensão a respeito da bondade à qual os cristãos e cristãs devem viver: não devemos ser bons pela recompensa eterna no além-vida. Uma compreensão meritocrática da bondade cristã não se configura como espiritualidade, mas como exercício de uma religiosidade interesseira e descomprometida.

Por muito tempo, cristãos e cristãs foram levados a viver uma fé baseada no medo da condenação eterna. Ainda hoje vivemos resquícios desse tipo de religiosidade, que desfigura o rosto amoroso de Deus, tornando-o punitivo e alguém que contabiliza erros e acertos. Em Jesus, encontramos um Deus totalmente gratuito, que nos chama à comunhão também na gratuidade. Somos chamados a fazer o bem porque primeiro fomos tocados pela radical bondade do Pai. Ser bons significa, em última instância, manifestar ao mundo que o amor nos alcançou e que, tal alcance, transforma nossa vida, enchendo-a de significado e sentido. Por isso somos gratos. A bondade é consequência do amor.

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